7 - Conto - Os piadistas

No domingo, quando eu passava em frente à padaria, vi dois sujeitos na esquina morrendo de rir. Aproximei-me discretamente deles e encostei-me atrás de um poste onde fiquei ouvindo-os. Não sou bisbilhoteiro, mas como eu estava só e procurando algo para fazer, resolvi ficar observando aqueles estranhos para ver se matava um pouco o tempo.
- Essa foi muito boa - disse um deles, que era magro e alto.
- É. E você não sabe nenhuma? - perguntou o outro que era gordinho e baixo.
- Sei.
- Então conta.
Apurei os ouvidos para escutar melhor o que deveria ser uma boa piada. E aqueles dois tipos pareciam realmente grandes piadistas.
- Bom, - começou o rapaz magro - tinha dois Portugueses: o Joaquim, o Manoel e o João.
- Opa! - interrompeu o outro. - Não eram dois?
- Era! Você sabe a piada?
- Não.
- Então me deixa contar. A piada é minha, fui eu que inventei.
- Tá bom. É sua? É?
- Claro que é. E da minha própria “autoridade”.
- Tá, tá, tá. Então conta.
- Bom. Caminhavam juntos os dois Chineses...
- Dois chineses? - cortou o outro. - Não eram portugueses?
- Espera um pouco. Quem está contando a piada sou eu ou é você?
- É você.
- Então me deixa terminar.
- Claro. Vai. Conta.
- Os dois...É...É? – falou o magro esquecendo-se.
- Chineses? – ajudou o outro.
- Pronto! Agora você vai contar a piada.
- Conta você, a piada é sua.
- Não dá, você não deixa.
- Desculpe-me. Eu fico de bico calado.
- Não. Eu não vou contar mais – disse o magro virando-se de costas.
- Conta!
- Não, você conhece a piada.
- Como conheço? Você não disse que a piada é da sua própria autoria, digo “autoridade”.
- E ela é. Mas eu conto para muita gente. Talvez alguém te contou.
- Conta logo e acaba com isso – indignou-se o gordinho.
- Não conto.
- Então não conta e vamos embora que estou com pressa.
- Vou contar, mas não me interrompa.
- Certo.
- Era... Não me atrapalhe.
- Hum...Hum.
- Se você falar eu paro de contar.
O outro balançou a cabeça afirmativamente.
- Eles continuaram caminhando pela rua até que o argentino olhou para o japonês e...
O gordinho, espantou-se, arregalou os olhos, entortou os cantos da boca, mas não disse nada. Quase que eu interrompi a piada e perguntei para o magricela qual era afinal a nacionalidade das pessoas, porém percebi que ele estava inventando esses novos personagens para ver o que o outro iria falar.
- Você não vai me atrapalhar mais? – perguntou o magrinho.
O outro cruzou os braços, fechou os olhos e jogou os ombros para cima. Como se não se importasse mais com o outro.
- Eu acho bom mesmo – falou o contador. - É... O cara do bebê... Eu falei do bebê?
O outro não respondeu. Mas já estava impaciente.
- Pronto, lá vem você me atrapalhar de novo.
- Mas eu não disse nada – desculpo-se.
- Mas pensou.
- Você é que não sabe piada nenhuma.
- Sei sim. Várias.
- Então conta uma.
- Você me atrapalha.
- Eu?
- É. Você não quer rir. É impaciente. Nem me espera terminar de contar a piada com detalhes - disse e cruzou os braços.
Acho que perceberam a minha presença, pois ficaram em silêncio por alguns minutos. Fiquei impaciente também, atravessei a rua e caminhei até a banca de jornal ali perto, onde comprei um livrinho de piadas e fui para casa ler. Com aqueles dois discutindo eu acabaria sem saber piada nenhuma. Meia hora depois, espiando pela janela, vi que eles ainda estavam lá na esquina só que rindo adoidado.