A meia hora dos pássaros é linda. Eles passam voando em silêncio.
Algumas vezes, bem lá no alto; outras, bem baixinho quase batendo nas árvores. Voam formando uma seta, indicando para os outros a direção a ser seguida. Uma vez ou outra, um chega atrasado e acaba completando o desenho, ou algum da frente se desalinha e a fileira toda continua o vôo na formação errada atrás dele. Meia hora linda, a dos pássaros, quando o sol não está no céu e também não se escondeu ainda. Tem uma faixa alaranjada, morna, com uns restos de nuvens que parecem querer ir embora junto com o sol. Lá longe vem outro bloco voando com graça. E depois outro um pouquinho mais rápido. Um maior, outro menor. Sempre na mesma direção. Os papos vêem cheios: grãos, insetos, quirelas. Na contra luz são todos pretos. Quando pousam aqui perto vejo que são brancos, mas a favor do sol são amarelados. A meia hora dos pássaros é a melhor hora para se orar, para agradecer aos céus. É hora de dar adeus para o dia e começar a respirar o ar da noite, para se esquecer da tristeza e se lembrar do amor. Pena que é só meia hora e agora só passarão amanhã.
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